quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Vôo 19

Rápido. Troque as cartas. Respire fundo. A senha, por favor. É capaz de dizer que dia é hoje, Edgar Cayce? Sinto-me impossibilitada de voltar. Há coisas que não se pode mudar, assim, fazendo vezes de meio mortal, meio suicida. Afinal, o legítimo suicida não tem tempo para mudar de idéia. Quando você cai, apenas cai. Não pára. Não dá para dizer, no meio da queda, desisto, aliás, dá pra dizer, mas isso não muda nada. Não tira o chão do lugar, não afeta a gravidade da situação. Abri a janela esta manhã e não poderia dizer que faria sol e não fez. Não reconheceria dezembro ou janeiro. Meu corpo esta impregnado de suor, tento fugir, correr… apenas isso. Acho melhor esquecer a carta, não? Mando um telegrama, talvez? Mas quem ainda manda telegramas? Não banque o taquígrafo comigo, eu conheço os mínimos sinais que emites. Sem breves suspiros ou longos arrepios. Tenho observado bem as pedras, não as nuvens. O que varia nem sempre é tão importante quanto o que fica. Preciso te apresentar alguém. Quando não importa, importa? Não me venha com essa de que poderá não estar vivo amanhã, você já não está aqui, nunca esteve. Não banque o detetive, isso é apenas magnetismo. Vê? E nem preciso ser simpática e sorrir ou abusar do decote nos seios fartos que não possuo. Não acredito em hipnotismo e não me venha fazer vezes de Brian Weiss, querido. Falta tempo. Preciso terminar de escovar meus cabelos. Vou à caça. Tem comida congelada na geladeira. Eu só preciso abater alguns aviões. Queda-livre. Um presente made in Taiwan, novidade. É pós-guerra: eu escovo os dentes e abalo três economias, fria e calculista. Sem curvas, mas muito profissional. Minha cinta liga verdades. Carrego a bolsa e tenho um 38, cabo de madrepérola, para eventualidades. Saltos vermelhos e charuto: fatal. Você já está morto Cayce e não fui eu quem matou. Preciso urgentemente de um tubinho preto.

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